Radiohead: elimine os intermediários

A banda Radiohead lançou, há quase um mês, seu novo álbum, “In Rainbows”, de um jeito bem diferente. Você pode entrar no site da banda e baixar o álbum sem pagar nada, ouvir, e decidir quanto você quer pagar por ele. Se achar que não vale nada, não tem problema, não precisa pagar. Você também poderá comprar, em dezembro, um box com o disco no formato físico, um vinil duplo e um CD multimídia com sete faixas extras, letras, imagens e outros itens. Vinil, cara, faz idéia do que é isso? Esse box vai custar uns 80 dólares.

Bom, agora, quase um mês depois começam a sair os resultados. É importante que você saiba que todo o restante desse artigo é um palpite, baseado numa estimativa feita pelo site Gigwise, e só a Radiohead realmente sabe quanto de verdade faturou. Dito isso, veja essa matéria na Info: Maioria não paga por download do Radiohead.

Quem escreveu essa matéria, o pessoal da RIAA? Eu imaginei que jornalistas, ao criar manchetes para suas matérias, devessem escolher coisas relevantes. Bem, a maioria não pagou, certo. Alguém esperava que fosse diferente? Agora vamos falar do que a matéria não disse. Desde o início de sua carreira, em 1993, a Radiohead vendeu nos Estados Unidos 8,2 milhões de discos. O último álbum do Radiohead, “Hail to the Thief”, vendeu 300.000 cópias no mesmo intervalo de tempo e, até hoje, vendeu nos Estados Unidos cerca de um milhão de cópias. “In Rainbows” teve 1,2 milhão de downloads, sendo que apenas 38% dos usuários pagaram, em média US$ 6,00.

Bom, eu não sei quanto a EMI pagava ao Radiohead por cada CD vendido, mas você vai achar interessante esse artigo, já antigo, da Courtney Love no salon.com. Ela diz que a gravadora paga ao artista 20% do preço de venda, e ele tem uma série de outros custos que fazem a conta apenas empatar. O “Hail to the Thief” custa hoje US$ 10,00 na Amazon. Mas foi vendido a US$ 19,00 a maior parte do tempo. Vamos ignorar o que a Courtney disse sobre os outros custos e tomar apenas o preço de venda. O “Hail to the Thief” deve ter feito a Radiohead faturar, no primeiro mês:

US$ 19,00 X 300.000 X 20% = US$ 1.140.000,00

E para o “In Rainbows”, a quantidade de pessoas que efetivamente pagou foi 38% de 1,2 milhão, um valor médio de 6 dólares:

US$ 6,00 X 1.200.000 X 38% = US$ 2.736.000,00

Imagine se o site deles não fosse um lixo. E aí, você ainda acha que “maioria não compra” é uma boa manchete? Esse fato óbvio é mais relevante do que o fato de eles terem faturado mais que o dobro do disco anterior no mesmo período de tempo?

Intermediários? Embalagens?

Artistas produzem música, fãs compram música. Um CD não é música, é uma embalagem de acrílico, alumínio e policarbonato para as músicas. Quanto custa essa embalagem? É possível comprar CDs virgens a R$ 59,00 o cento, o que dá R$ 0,59 por embalagem. Uma embalagem muito inconveniente para música, diga-se de passagem. E uma gravadora, o que é? Um intermediário. Alguém que embalava, transportava e entregava o produto. O que a tecnologia fez foi tornar a embalagem e o intermediário dispensáveis. A mesma coisa acontece com filmes e livros, por exemplo.

Mas algumas pessoas ainda querem embalagens. Por isso o Radiohead vai vender o box, com tantos adicionais. Inclusive o vinil. Você percebeu, estou pasmo com esse negócio do vinil! Muita gente vai comprar só por causa do vinil. Nesse caso, a embalagem agrega valor. Ela é dispensável, e quem só quer a música não vai comprar a embalagem. Mas quem levar a embalagem vai levar porque quer, porque ela é muito desejável. E sem o intermediário.

E você, qual é o seu produto? A internet pode livrá-lo dos intermediários? Que embalagens você pode dispensar? O que você poderia fazer em suas embalagens para que elas sejam desejáveis?

Publicado por

Elcio

Elcio é sócio fundador da Visie Padrões Web. Pioneiro no uso e divulgação dos padrões do W3C no Brasil, Elcio já treinou equipes de dezenas de empresas como Globo.com, Terra, Petrobras, iG e Locaweb. Além disso, tem dirigido as equipes da Visie no desenvolvimento de projetos web para marcas como Brastemp, Itaú Unibanco, Johnson & Johnson e Rede Globo.

5 comentários em “Radiohead: elimine os intermediários”

  1. Pingback: navegantes.blog
  2. Excelente texto.

    Só gostaria de acrescentar: os 62% que não pagaram, baixariam via ilegalmente de qualquer maneira. 20% do valor do CD é muito, aqui no Brasil, até um tempo atrás, ganhava-se no máximo R$ 1,00 (creio que o Zezé de Camargo). Artista ganha dinheiro com show.

  3. Normalmente a gente aqui do Brasil ve essas iniciativas como “fria”, mas isso porque temos por base nossa conduta geral de nao pagar e nao valorizar nada. Lá fora as pessoas costumam valorizar, pagar, pagam os programas sharewares que a gente não dá a minima, pagam por musicas e fazem doações.

    E a essas alturas tá provado que a internet libertou artistas e abriu as portas para outros tantos, esse otimo post deixa isso mais claro ainda.

    Parabéns Elcio, posts matadores, esse e o que fala sobre blogs, excelentes.

  4. Geralmente sou apenas um leitor deste excelente blog, porém, desta vez, tive que comentar este post! Fala sério! Até eu pensava que os caras deviam estar devendo até as calças depois desta iniciativa, mas depois deste post, fala sério, os caras foram foi muito inteligentes! Se mostraram ótimos empreendedores, mas arriscaram também na sua própria credibilidade. Mas pra quem vende 300 mil cópias num curto período de tempo, credibilidade é algo que não deve faltar pra eles.

    Parabéns pelo post Elcio!

    Abraços!

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