A quebra da proteção anti-cópia do HD-DVD, o Digg, e o futuro do DRM e das indústrias de música e cinema.

Saudações amigos piratas!

O Digg perdeu o controle de seu próprio site por causa da singela seqüência de números[bb] acima. Uma história interessante que vale a pena acompanhar. Sua primeira tendência pode ser a de criticar o Digg pela censura. Mas, pense bem, se fosse o seu pequeno negócio de milhões de dólares que estivesse ameaçado de processo judicial, será que você seria realmente tão corajoso assim?

É fácil para quem está de fora criticar uma empresa qualquer que tente controlar o que seus usuários publicam, controlar quem pode acessar o conteúdo, colaborar com governos esquisitos e outras atitudes de “restrição à liberdade”. Acontece, meu amigo, que quem vai perder seus milhõezinhos, ou até parar na cadeia, não é você nem os outros milhões que protestaram, mas ele, o dono do site, o sujeito que toma a decisão.

Claro que eu concordo com você, prezado leitor, que acha que o Digg deveria ter deixado lá as notícias desde o começo. Mas critique com moderação.

Bom, sobre a quebra da proteção anti-cópias do HD-DVD, o Cory Doctorow já havia dito, há um bocado de tempo, que essa coisa toda não funciona mesmo. Leia o item 1 desse link.

Ainda há uma enorme lacuna não preenchida nessa coisa toda. Todo mundo diz que a indústria da música e do cinema tem de encontrar um outro modelo de negócios, porque essa coisa de vender cópias e impedir as pessoas de assistir ao conteúdo sem pagar deixou de funcionar. Legal, eu concordo. Mas quem vai sugerir um bom modelo de negócios?

Para música, que pode ser com facilidade produzida hoje em estúdios caseiros baratos e de excelente qualidade, modelos como o da Tramavirtual podem fazer muito sentido. Produzir boa música é relativamente barato. O trabalho da gravadora é o de um intermediário hoje. Ela domina as cadeias de distribuição. A mídia digital rapidamente se tornou um meio de distribuição muito mais eficiente e mais barato do que o que a indústria de música tradicional pode oferecer. CDs em caixinhas, comprados numa loja, são coisa do século passado.

Aliás, a própria expressão “indústria de música” me parece um tanto estranha. Não há uma indústria de música. Um gênio cantarolando e anotando coisas estranhas em frente ao teclado, e depois ensinando o que escreveu para meia dúzia de exímios instrumentistas é como geralmente nasce um “produto” musical de qualidade. Não dá para se produzir isso de maneira “industrial”, e se você tentar o máximo que vai conseguir é uma Britney Spears ou o Rouge.

Então perceba o caminho percorrido pelo “produto” musical até você: ele é produzido por um ou alguns sujeitos geniais sozinhos. O custo de produção é relativamente pequeno, e pode ser ainda muito reduzido antes que você consiga perceber diferenças na qualidade. Um outro elemento, a gravadora, assume os direitos sobre essa música e faz com que ela chegue até você. A gravadora escolhe o que vai te entregar e o que não vale a pena, ela tem controle sobre a cadeia de distribuição. O primeiro sujeito, o autor, ganha uma miséria. Ou seja, o papel da gravadora é o de um intermediário, que liga você com o autor da música.

Aqui a tecnologia muda tudo. O músico não precisa mais de um intermediário, ele consegue chegar diretamente até você. E como não há intermediário, muita coisa muda:

  1. Ninguém escolhe o que você pode ou não ouvir. Aquele músico muito bom, cujo trabalho é diferente demais para passar pelo crivo de uma gravadora, agora tem chance. O número de boas opções se multiplica.
  2. O músico ganhava uma miséria. Então, para ele, miséria por miséria, é melhor falar diretamente com o público. Se for para ganhar a mesma coisa com venda de música, então é melhor que mais gente tenha acesso. Assim ele consegue ganhar mais com shows e etc.
  3. Você não paga para sustentar a gravadora. Não precisa pagar pela prensagem do CD, pela capa, pelos custos de distribuição, pela propaganda e etc.

Claro, essa mudança demora ainda alguns anos. Então as gravadoras se tornam dispensáveis. E morrem. Pode parecer cruel, mas é o que acontece com empresas que insistem num produto que ninguém quer mais. Lembra-se da Olivetti? Eu já tive uma máquina de escrever Olivetti. Você tem ouvido falar deles ultimamente?

Mas coisa é diferente no cinema. Aqui podemos falar de “indústria”. Produzir um filme custa caro, muito caro. É claro que há muita coisa boa sendo produzida por aí quase sem custos, mas você não quer assistir documentários a vida toda, certo? A indústria do cinema nos legou King-Kong, o primeiro, que fique bem claro. Nos deu Ben-Hur, E o Vento Levou, Casablanca, a trilogia Star Wars, Titanic e Matrix. Sem falar nos exterminadores, demolidores, lutadores, caubóis e agentes secretos. Da mesma maneira como a indústria da televisão nos dá coisas como Heroes.

Uma vez que essa história de DRM não funciona, as pessoas vão copiar os filmes sem pagar por eles. Parece inevitável. Quando alguém vai propor um modelo de negócios que funcione para o cinema? Como pagar pela produção de um Matrix, se as pessoas vão assistí-lo de graça? Vamos inundar os filmes de merchandising? Os cineastas vão ter que encontrar mecenas para seus projetos? Ou vamos ter que nos contentar com produções ao nível de Bollywood?

Publicado por

Elcio

Elcio é sócio fundador da Visie Padrões Web. Pioneiro no uso e divulgação dos padrões do W3C no Brasil, Elcio já treinou equipes de dezenas de empresas como Globo.com, Terra, Petrobras, iG e Locaweb. Além disso, tem dirigido as equipes da Visie no desenvolvimento de projetos web para marcas como Brastemp, Itaú Unibanco, Johnson & Johnson e Rede Globo.

6 comentários em “A quebra da proteção anti-cópia do HD-DVD, o Digg, e o futuro do DRM e das indústrias de música e cinema.”

  1. Élcio!

    Bollywood é muito bom! Já assisti ótimos filmes indianos! Além do que produção barata não é igual a documentário e sim coisas alternativas e algumas vezes muito boas.

    Quanto à discussão de um modelo de negócios, parece que pra música está resolvido: música de graça mas cobra pelo show. Para filmes poderia ser parecido: cinema é cobrado (tela gigante, película). Distribuição para o público que precisa ser repensada, um Joost talvez.

    De qualquer forma, ótimo post! Que começou com a revolta dos Diggers e foi parar no cinema… hehehehe!

    Abraços!

  2. É isso mesmo. Os governos não devem gastar suas leis e verbas criando mecanismos para defender uma indústria que, como você mesmo mostrou, não é mais necessária, está ficando obsoleta. Mas por causa do tal do lobby o que vemos é a criação de leis e regulamentações que transformam cidadãos em criminosos.

    Ninguém foi ao socorro da indústria de charretes e ferraduras quando carros e trens começaram a entrar no mercado. Será que é porque os substitutos eram outras empresas e agora são indivíduos?

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